por Pedro Miskalo
Segundo a ONU, vinte milhões de civis correm grave risco de guerra, desamparados de qualquer ajuda, seja pela inércia da comunidade internacional, seja pela violência contra quem lhes dá assistência.
• SOMALIA: (637.657 km2 – 10 milhões de habitantes).
Localizada no chamado Chifre da África, o ponto mais oriental do continente, banhado pelo Oceano Índico.
Situação: Técnicos humanitários ousam aventurar-se no país, em guerra civil desde 1990 e com um governo de transição desde 2000. No país reina o caos e as divergências entre os “senhores da guerra”. O território é dividido em zonas de influências, perigosíssimas para os estrangeiros: muitos funcionários de ONGs foram mortos nos últimos meses. Parece que também a al-Qaeda se aproveita da violência para recrutar terroristas na região.
Conseqüência: Milhares de pessoas em situação de perigo.
• SUDÃO: (2.505.813 km2 – 33 milhões de habitantes).
Localizado ao sul do Egito. O litoral é banhado pelo Mar Vermelho.
Situação: Na região ocidental do Darfur está em curso a pior crise humanitária do planeta. As milícias árabes janjaweed atacam as vilas e colocam em fuga os habitantes das etnias negras que moram no sul do território. Já se contabilizam 50 mil mortos, um milhão de refugiados, dos quais 160 mil estão no Chade. As instituições humanitárias não têm acesso à região, o governo não intervém e, pelo contrário, é cúmplice do genocídio.
Conseqüência: Dois milhões de pessoas em situação de perigo.
• REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA: (622.436 km2 – 4 milhões de habitantes).
Sem saída para o mar, o país ocupa um planalto coberto por savanas entre as bacias do rio Congo e do lago Chade, no centro do continente.
Situação: Os rebeldes e os mercenários, provenientes também do Chade (ao norte), que têm sustentado o general Bozize no seu golpe de Estado em 2003, mantêm o país refém de um litígio econômico com o regime: solicitam 1.800 dólares per capita enquanto o novo governante lhes oferece 250: por isso, as milícias se entregam aos saques, estupros e maus-tratos contra os civis. Já são 300 mil os retirantes, enquanto a agricultura está parada.
Conseqüência: Dois milhões e duzentas mil pessoas em situação de perigo.
• UGANDA: (241.038 km2 – 25 milhões de habitantes).
Localizada na região dos Grandes Lagos africanos, ao sul do Sudão, sem saída para o mar.
Situação: O Exército de Libertação do Senhor, de Joseph Kony, faz anos que aterroriza o norte do país, seqüestrando crianças (já são vinte e cinco mil, pelo menos), obrigando-as a combater. Mais de um milhão e meio de pessoas foram obrigadas a abandonar suas próprias casas. As instituições humanitárias podem chegar às áreas dos refugiados apenas sob escolta armada.
Conseqüência: Um milhão e seiscentas mil pessoas em situação de perigo.
Outros países deste continente esquecido convivem com a pobreza absoluta, as doenças tropicais, a miséria e o medo. Para piorar a situação, o flagelo da seca e as invasões de gafanhotos dizimam lavouras e pastagens no noroeste do continente. Os campos da Mauritânia, do Mali, de Senegal e de Gâmbia estão sendo dizimados por esses insaciáveis insetos. Burkina Fasso, Níger, Chade e Sudão também estão no caminho da praga, que avança e tudo destrói.
A ÁFRICA SE ARMA COM RESTOLHOS OCIDENTAIS
O drama de Darfur, no Sudão, traz de volta a questão da difusão de armas pela África. Os dados do Anuário 2000, do Instituto Internacional de Estocolmo, indica que, desde 1997, as despesas militares africanas não param de subir. Em 1999, as despesas militares cresceram 22% em relação a 1996, ano da maior retração de gastos militares. A agência vaticana Fides dedicou amplo relatório a essa matéria. E nos mostra o retrato de um continente ao qual confluem resíduos dos arsenais ocidentais, usados, mas ainda letais, além de novos equipamentos.
Sobretudo armas leves, mas também produtos de novíssima tecnologia, como os mísseis russos que incendeiam o ar em torno do alvo, produzindo a morte de homens e animais, e que estão nas mãos de milícias do Congo Brazzaville. Estimativas colocam, apenas na África sul-saariana, 30 milhões de armas leves, 5% de todas as que existem no mundo, 80% delas nas mãos de civis. Outra frente de difusão de armas na África, além das empregadas nos combates, vai para a criminalidade comum, armada com eficientíssimos restolhos de guerra e de guerrilha, como o muito difundido fuzil Kalashnikov, preferido pelos saqueadores e caçadores clandestinos. A África é um continente onde acontecem 18% dos homicídios e suicídios com armas de fogo de todo o mundo.